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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Obstáculo em números

Estudo mostra dificuldades na hora de contar que é portador do HIV

Viver com HIV exige cuidados especiais consigo mesmo, mas também com o próximo: como se dá o processo de revelação da soropositividade nas relações sexuais ou afetivas? 

Foi isso que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) resolveram investigar, em estudo publicado na edição de setembro da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
A pesquisa analisou como e se homens, hétero e bissexuais, contam sobre sua condição para seus parceiros sexuais. Os resultados indicaram que o ato de revelar requer confiança e que é mais frequente entre heterossexuais, mas também para parceiros fixos, soropositivos, para mulheres, e menos frequente para profissionais do sexo.
Os dados da pesquisa apontaram que, nos seis meses anteriores ao estudo, dos consultados, 69% relataram terem revelado sobre o problema de saúde para parceiros fixos, mas apenas 32% contaram sobre a situação para profissionais do sexo ou anônimos com que se envolveram. A análise das informações obtidas também indicou que a proporção de revelações do diagnóstico foi maior em casos em que os parceiros fixos eram mulheres ou também soropositivos para HIV.
No que se refere ao uso de preservativos, a maioria relatou o uso consistente, embora esse tenha sido menos frequente com parceiros soropositivos. “Em contextos marcados por preconceitos, a falha na revelação do diagnóstico e a incorporação compensatória do uso de camisinha nem sempre resolveu o problema, frequentemente levantando suspeitas e aumentando o estigma pelo parceiro mais do que a cumplicidade na prevenção”, comentam os pesquisadores.
A dificuldade de revelar o diagnóstico por medo de perder a/o namorado ou esposa/o apresentada pelos entrevistados foi tão grande que em um dos casos o consultado abandonou o parceiro sem explicações, após descobrir que tinha a doença. Além disso, os entrevistados também afirmaram terem dificuldades para iniciarem uma nova relação afetiva devido à necessidade de contar que são portadores do vírus.
O estudo ainda indicou que os participantes raramente conversaram sobre situações de revelação de sua condição para parceiros com profissionais de saúde de serviços especializados. “Não cabe aos profissionais de saúde determinar como as pessoas devem se comportar ou quais decisões devem tomar suas vidas afetivas, familiares, reprodutivas ou sexuais”, ressaltam os pesquisadores. “No entanto, cabe a esses trabalhadores tentar enfrentar o desafio de garantir o direito a uma vida sexual e reprodutiva de qualidade, em favor de que as decisões feitas no cotidiano sejam realizadas após o entendimento adequado das dificuldades, tornando os pacientes não meros portadores de HIV, mas pessoas que vivem com o vírus em questão”.