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domingo, 31 de julho de 2011

Estudo mostra o perfil das hepatites virais nas capitais brasileiras

A maior pesquisa sobre hepatites virais já realizada na América Latina revela mudanças no padrão de ocorrência dessas doenças no Brasil, com redução das infecções dos tipos A, B e C, entre 2005 e 2010. Os dados do Estudo de Prevalência de Base Populacional das Infecções pelos vírus das Hepatites A, B e C nas Capitais do Brasil, elaborado pelo Ministério da Saúde, mostram que, nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, o percentual da população que tem ou já teve hepatite (prevalência) foi de 39,5% para o tipo A, de 0,37% para o vírus B e de 1,38% para o tipo C.
A OMS classificava o país na faixa de endemicidade intermediária a alta. Isso porque os dados usados pela Organização Mundial de Saúde não se baseavam em estudos amplos e atuais. Com base nos resultados do Inquérito e comparando-os com os parâmetros do organismo internacional, as prevalências sugerem que o Brasil está na faixa de baixa endemicidade.
“Os números encontrados no novo estudo são reflexos claros da melhoria das condições sanitárias, no caso da hepatite A, e do impacto da vacinação, no caso da hepatite B”, avalia o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Mais de 26 mil pessoas participaram da pesquisa – 6.468 fizeram teste para hepatite A e 19.634 para os vírus B e C. A população residente no conjunto das capitais representa 23,8% da população total do país – mais de 45 milhões de habitantes. O estudo é um retrato da prevalência das hepatites virais no conjunto das capitais e do DF.
Se o padrão observado nas capitais e no DF for considerado para todo o país, a estimativa de prevalência para a população brasileira geral é de 20,5 milhões de pessoas que já tiveram, em algum momento de sua vida, infecção pelo vírus da hepatite A, 800 mil pelo vírus B e 1,5 milhão pelo tipo C.
Para o vírus tipo A, participaram do inquérito pessoas de 5 a 19 anos, faixa etária em que a prevalência permite realizar inferências sobre o padrão de ocorrência da doença. No caso dos vírus B e C, participaram indivíduos de 10 a 69 anos.
HEPATITE A – O estudo indica que, quanto menor o nível socioeconômico, maior a frequência de casos de hepatite A. É o que acontece nas capitais da região Norte, que apresentam a maior prevalência de contato com a doença (58,3%). “Isso mostra a influência da falta de acesso ao saneamento, que é menor nessas capitais, favorecendo uma maior circulação desse vírus”, observa Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério.
A endemicidade é considerada intermediária nas capitais do Centro-Oeste (54,1%), Nordeste (53,1%) e no Distrito Federal (41,6%). Já nas capitais dos estados das regiões Sudeste e Sul, a frequência de casos de contato com a hepatite A é considerada baixa: 32,5% e 30,8%, respectivamente.
Chama atenção o dado de que, em todo o Brasil, menos pessoas estão tendo contato com a doença na infância. Nessa fase da vida, a hepatite A apresenta-se como uma doença de cura espontânea, que não deixa sequelas. A redução de casos nessa faixa etária é consequência da ampliação no acesso ao saneamento básico, observado em todo o país.
“O Ministério da Saúde está atento a essa realidade e, por isso, realiza estudos de custo/efetividade, para avaliar a ampliação do uso da vacina contra hepatite A para uma parcela maior da população, até o final de 2011”, informa Greco. Atualmente, a vacina está disponível para populações específicas (ver relação completa).
HEPATITE B – Nas capitais brasileiras e no DF, a prevalência da doença é 10 vezes maior nas faixas etárias mais elevadas – 0,6% entre pessoas de 20 a 69 anos e de 0,06% entre jovens de 10 a 19 anos. O dado reflete a principal forma de transmissão desse tipo da doença, que é por meio de relação sexual.
Além disso, a baixa frequência de casos entre crianças e adolescentes decorre da vacinação contra a hepatite B, disponível no Sistema Único de Saúde. Desde 1998, o Ministério da Saúde incluiu a vacina no calendário básico e, a partir de 2001, começou a ofertá-la para crianças e adolescentes.
“Essa é uma prova clara de que o uso contínuo dessa vacina pode praticamente eliminar a transmissão da hepatite B no Brasil, em um futuro próximo”, reforça Greco. Após as três doses preconizadas pelo Ministério da Saúde, mais de 90% dos adultos jovens e 95% das crianças ficam imunizadas contra o vírus da hepatite B.
HEPATITE C – Entre as hepatites virais, a do tipo C é a que exige mais atenção, pois, se os casos não forem diagnosticados precocemente, há possibilidade de agravamento das condições de saúde dos pacientes, e a doença passaria a ter um quadro crônico.
Muitas pessoas infectadas não sabem que têm o vírus da hepatite C, doença que pode permanecer sem sintomas por até 20 anos. O diagnóstico, disponível na rede pública de saúde, só pode ser feito por meio de testes em laboratório. A descoberta tardia da hepatite C – quando os pacientes já apresentam lesões importantes no fígado, incluindo câncer e cirrose hepática – é a principal causa de indicação de transplante de fígado no Brasil.
De acordo com o Inquérito Nacional de Hepatites Virais, a maior prevalência da hepatite C está nas capitais da região Norte (2,1%) e a menor, no Nordeste (0,7%). Os percentuais são semelhantes no Centro-Oeste (1,3%), Sudeste (1,2%) e Sul (0,9%).
A principal forma de transmissão é a sanguínea, por meio do compartilhamento de seringas contaminadas ou objetos que cortam e perfuram – como alicates, tesouras e agulhas de tatuagem. A hepatite C também é transmitida da mãe para o filho (durante a gravidez ou no parto) e na relação sexual sem preservativo. A transfusão de sangue não é mais um fator de risco, pois desde 1993 há controle minucioso da qualidade do sangue em relação às hepatites. Entretanto, pessoas que receberam transfusão de sangue antes de 1993 devem fazer o teste para o diagnóstico, considerando que a doença é silenciosa. 
TESTAGEM – Atualmente, os testes para hepatites estão disponíveis em todo o SUS. Em agosto, serão oferecidos também exames rápidos para os tipos B e C, nos Centros de Testagem a Aconselhamento (CTA) das capitais do Brasil. O resultado fica pronto em 30 minutos. Com testes convencionais, o resultado sai em até 15 dias. Já foram adquiridos mais de três milhões de testes rápidos (metade para hepatite B, metade para hepatite C) para ampliar o acesso ao diagnóstico.

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